Descrição
Podem falar mal do Rio de Janeiro. Dizer que a cidade ficou violenta,
perdeu a qualidade de vida e o charme de capital cultural do país. Mas a
vocação do carioca para a alegria é mais antiga do que se pensa. A
historiadora Rosa Maria Barboza de Araújo foi até às origens da Vocação
do prazer do Rio, localizando o ponto em que começou a se formar a
identidade cultural da cidade — ainda hoje pautada pelo consumo do
lazer, inumeráveis opções de diversão e programas para todos os gostos e
bolsos, além de um gosto especial pela vida noturna. Não é à toa que
nunca se ouviu falar de uma tradicional família carioca (nos moldes das
tradicionais famílias mineiras e paulistas). Quando a República foi
instaurada, há pouco mais de cem anos, a então capital do Brasil foi a
primeira cidade a perder os ares de província e aderir à modernidade
cosmopolita. Com a ampliação dos serviços públicos e de atrações de
lazer, a família carioca perdeu a cerimônia de freqüentar a rua. O
trabalho, a escola, o hospital, a agilidade do bonde e a novidade do
automóvel criaram um novo estilo de vida. O carioca tomou gosto pela
boêmia, pela vida noturna. O terço foi substituído pelo baralho e o
piano pelo violão. As mulheres da elite começaram a sair de casa. Podiam
estudar e até trabalhar como professora, se tivessem uma autorização
por escrito do marido. Lançou-se a moda da saia-calça feminina, um
sucesso absoluto. O ideal do amor romântico chegava ao Rio, acarretando o
fim dos casamentos negociados. O namoro no bonde, na janela ou por
carta inspirava as donzelas casadoiras e era olhado com complacência
pelos pais. Enquanto as moças pobres, mais independentes, ganhavam
autonomia para namorar nos bancos de praça. Nascia a “cidade
maravilhosa, cheia de encantos mil”, onde todos queriam, mas poucos
podiam, estar em todos os lugares ao mesmo tempo. A vocação do prazer ,
mistura o tom da crônica de costumes ao preciosismo do ensaio histórico,
retratando com estilo leve uma extensa pesquisa feita em jornais,
livros, arquivos públicos e particulares sobre o Rio de Janeiro de
antigamente.