Descrição
Acusado de homicídio, o protagonista-narrador de Coivara da memória
passa as horas entre pilhas de processos e a redação de suas memórias,
enquanto aguarda o julgamento. As razões do crime só aos poucos vão se
fazendo entender, pois a rememoração obsessiva vasculha cada canto de
suas lembranças. Sem maniqueísmos, e em passagens de raro lirismo, o
protagonista constrói o inventário de personagens complexos às vezes
dúbios pelas incertezas da memória que marcaram profundamente sua
infância, adolescência e juventude: o quixotesco tio Burunga, o
taciturno negro Garangó, o pai obstinado morto à traição e renegado
pelo sogro , a mãe que não conheceu, o arrebatador e trágico amor de
sua vida: Luciana. Ao revisitar estes e outros tantos, numa linguagem em
si mesma ancorada naquele mundo agora feito em cinzas, o narrador se
deixa entrever nessas lembranças pontuadas por ódios, injustiças e
violências ? mas também por gestos de generosidade, retidão e ternura,
certo de que só a memória pode torná-lo mais humano.