Descrição
Graciliano: retrato fragmentado, de Ricardo Ramos, é diferente de uma
biografia em que a vida do personagem é explicitada em detalhes
cronológicos do nascimento até a morte. Como indica o próprio nome, a
história é contada de maneira fragmentada, o que não significa que
esteja incompleta. Trata-se de um retrato profundo, feito por traços
generosos, movidos pela memória afetiva do filho, também escritor, que
desenham e destacam aspectos e momentos desconhecidos da vida de
Graciliano Ramos. Aliás, um dos pontos de partida de Ricardo Ramos foi a
constatação de que as várias biografias do grande escritor alagoano não
davam a conhecer o homem por trás da obra, algo que este retrato desfaz
definitivamente ao apresentar suas sutilezas e complexidades. De
Graciliano Ramos pode-se dizer que é, ao mesmo tempo, uma figura muito e
pouco conhecida. Muito conhecida como a figura do escritor austero,
além de autor de obras fundamentais do romance brasileiro do século XX,
como Vidas secas. Mas dele também se pode dizer que faltam as nuances, o
retrato de muitas facetas, suas dimensões humanas, pessoais. Pois como
resume o autor, “Graciliano não é uma personagem inteiriça, compacta,
quase olímpica, sem a menor sombra de conflito ou dúvida. Não é criatura
rude, sertanejo primitivo e pitoresco, o autodidata que certo dia
simplesmente resolveu escrever. Não é um partidário, cego seguidor da
regra política. Não é tampouco o intelectual cooptado, que teve de se
adaptar às regras ditatoriais do Estado Novo”. Daí Graciliano: retrato
fragmentado ser, afinal, um livro de memórias que resgata e dimensiona
para seu autor a figura paterna. Para os leitores, apresenta sua figura
humana, abrindo um ciclo de reedições em torno da obra de Ricardo Ramos:
a editora publicará nos próximos meses Rua desfeita, Os caminhantes de
Santa Luzia e Circuito fechado.