Descrição
A singular “História da eternidade”, que dá título ao volume, publicada
originalmente em 1936, um ano depois da “História universal da infâmia”,
como esta desafia o leitor desde o título. Umaantinomia opõe a noção de
história, feita de sucessão temporal, movimento e mudança, à ideia
estática de uma duração sem fim que o termo “eternidade” evoca. O desejo
de escrever uma espécie de “biografia da eternidade” que nos libertaria
da opressão do tempo sucessivo sempre atraiu Borges, que jamais
abandonou o interesse pelos temas deste livro, mesmo quando, mais tarde,
reprova o que então havia escrito sobre eles. Na verdade, a coletânea
marca uma virada na carreira do escritor, que se abre ostensivamente
para a universalidade estampada desde o título. São agora motivos da
inquirição intelectual do ensaísta as doutrinas do tempo cíclico, as Mil
e uma noites e seus tradutores, a metáfora e as velhas imagens da
poesia da Islândia. Numa das notas finais, discreta e tímida em meio a
preocupações retóricas, desponta uma narrativa disfarçada de resenha
crítica: “A aproximação a Almotásim”, em que se dá a ver um de seus
primeiros exercícios de prosa de ficção. O ensaio que almeja espraiar-se
até o infinito de repente desemboca no conto de uma aproximação sem
termo, história de uma busca infindável.