Descrição
Quando terminava o primeiro semestre de 2013, o país foi sacudido pela emergência de uma mobilização social como não se via há cerca de 20 anos: ao fim da primeira quinzena de junho, uma manifestação de jovens, na cidade de São Paulo, centrada na questão do aumento das tarifas do transporte público, deflagrou uma dinâmica que, ao cabo de um mês, despejou multidões nas ruas e praças de 22 capitais e 400 cidades e envolveu uma greve de que participaram 3 milhões de trabalhadores. O movimento pôs em confronto o Brasil real (com suas carências absurdas em todos os planos da vida social) e o Brasil da ficção (aquele da “nova classe média”, do “novo desenvolvimentismo”, que vai realizar “a Copa das Copas” e coisas que tais).
A resposta imediata dos governantes diretamente envolvidos foi a repressão mais brutal: forças de segurança estaduais (as PMs) operaram com uma violência de dar gosto aos saudosos da ditadura. O governo federal (aquele do “projeto democrático e popular”) enfiou a cabeça na areia e a grande mídia tratou de criminalizar o movimento (argumentando sobre um pretenso “vandalismo”). Corridas pouco mais de 72 horas, a dinâmica em curso obrigou a uma mudança de discurso: todos os governantes (e a fauna política da situação e da oposição institucionais) formalmente reconheceram a legitimidade do elenco de demandas (enquanto o porrete policial continuava operando no lombo das massas renitentes) e a mesma grande mídia tratou de distinguir os “vândalos” dos “manifestantes de boa índole”.