Descrição
Dessa vez, o autor reinventa sua família para contar a história de uma
dinastia inquieta e poderosa que tem como matriarca Inácia Micaela, que
aprendeu a fazer amor com o tio e com ele se casou, alimentando a
mistura e os arrepios da família.A narrativa arrebatadora de Drummond
nos conduz para saga desta mulher que, armada com um rifle, aguarda o
ataque de seu grande inimigo político, Coronel Bim Bim, único e
inconfessável amor de sua vida, que se dirige à sua casa, na Belo
Horizonte dos anos 50, com alguns jagunços, com a promessa de levar a
cabeça da adversária para a cidadezinha de Cruz dos Homens e pendurá-la
no casarão de 28 janelas. Aos 65 anos, Inácia está cega e teme morrer
sem ter tempo de realizar seu grande sonho – apurar o olfato para sentir
o cheiro de Deus.Mestre de um gênero literário distinto, a que
poderíamos chamar realismo sobrenatural, Roberto Drummond sabe que em
sua terra nada é proibido – em Minas o natural e o sobrenatural convivem
em perfeita harmonia. As tradições e crenças mineiras alimentam, de
forma peculiar, o imaginário de sua gente através de histórias que
passam de geração a geração. E muitas vezes as fronteiras entre o real e
o irreal se tornam bastante tênues.É nesse cenário onírico e instigante
que o autor constrói a trama de O Cheiro de Deus. O leitor é conduzido a
um universo onde fatos políticos como a disputa entre a UDN e o PSD são
tratados com a mesma desenvoltura e naturalidade que personagens
fabulares como Catula, uma jovem de beleza estonteante que muda a cor da
pele com a chegada da frente fria; Júlia Preta e seu canto aziago que
prenuncia morte; a mula sem cabeça que enxerga, o médium que psicografa
Dostoievsky e as cinco irmãs que são um pouco anjos, um pouco demônios
também. Entre os Drummond, que dificilmente escapam da febre do incesto,
a alegria do sexo pode triunfar sobre as tristezas do mundo – mas a
vocação para o sofrer revela uma espécie de prazer.