Descrição
Coletânea de perfis biográficos. Memórias? “Nem pensar”, rebatia Otto
Lara. E no entanto ele as escreveu, pois ao falar dos outros acabou
falando de si próprio. Dos outros, diga-se, falou um bocado, em perfis
cheios de histórias e graça, cuja suntuosidade estilística já lhe
reservou um lugar de honra — senão o mais honroso — entre os clássicos
de um gênero que Otto começou a lapidar na imprensa carioca em 1946.
Foi perfilando Mário de Andrade que deu início às suas memórias
oblíquas, a seguir dissimuladas nas lembranças e impressões que lhe
deixaram Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira,
Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Murilo Mendes,
Alceu Amoroso Lima, Augusto Frederico Schmidt, Getúlio Vargas, Juscelino
Kubitschek, Rubem Braga, Pedro Nava, Luís Carlos prestes e tantos
outros também cobertos pela poeira da glória.A certa altura, Otto, o
ottobiógrafo dos outros, abre o jogo e confessa ter reencontrado em suas
reminiscências a ponta de sua própria história, pois, como ele mesmo
admite, a vida é compósita: caminhos cruzados, acaso, providência,
indecifrável charada. Mas chega uma hora em que ele capitula de vez,
ergue o rosto, mira o espelho e retrata aquele a quem mais intimamente
conheceu: um mineiro obsessivo de São João del Rei que sofria de asma,
tinha medo do ridículo e adorava conversar fiado, juntar papéis e saber
de tudo. Um mineiro que vivia em plantão cívico, com a consciência
atormentada, ardente de brasilidade, que só queria o melhor para o
Brasil.