Descrição
Desnecessário reiterar a importância de Machado de Assis, primeiro prosador da língua e mais completo homem de letras do Brasil, segundo Afrânio Coutinho. Ora, se Machado é nosso grande modelo de escritor, por que não lhe confiar também o juízo sobre os escritores e a literatura? Aliás, se há algo que transparece nesses ensaios, cartas, artigos e necrológios que coligimos é que o imenso talento do Bruxo do Cosme Velho estendia-se igualmente sobre a obra alheia, sempre mostrando uma profunda preocupação com a qualidade da vida literária brasileira – um tema hoje mais pertinente do que nunca. Em suas próprias palavras- Qual o remédio para este mal que nos assoberba, este mal de que só podem triunfar as vocações enérgicas, e ao qual tanto talentos sucumbem? O remédio já tivemos ocasião de indicá-lo em um artigo que apareceu nesta mesma folha- o remédio é a crítica. Desde que, entre o poeta e o leitor, aparecer a reflexão madura da crítica, encarregada de aprofundar as concepções do poeta para as comunicar ao espírito do leitor; desde que uma crítica conscienciosa e artista, guiar a um tempo, a musa no seu trabalho, e o leitor na sua escolha, a opinião começará a formar-se, e o amor das letras virá naturalmente com a opinião. Nesse dia os cometimentos ilegítimos não serão tão fáceis; as obras medíocres não poderão resistir por muito tempo; o poeta, em vez de acompanhar o gosto mal formado, olhará mais seriamente para sua arte; a arte não será uma distração, mas uma profissão, alta, séria, nobre, guiada por vivos estímulos; finalmente, o que é hoje exceção, será amanhã uma regra geral.