Descrição
Vida e obra se confundem em Procópio Ferreira apresenta Procópio — Um
depoimento para a história do teatro no Brasil , extenso e detalhado
relato deixado por uma das personalidades mais fortes e polêmicas das
artes cênicas brasileiras. O ator que se transformou em celebridade
nacional não tinha em mente teorizar sobre o teatro ou traçar uma
avaliação crítica dos palcos nacionais quando começou a reunir recortes e
anotações sobre sua carreira. Antes disso, seu objetivo era dar aos
fãs, estudiosos e estudantes um depoimento “a quente” sobre uma vida
inteira apaixonadamente dedicada à arte. Por quase 20 anos, os
manuscritos de Procópio ficaram nos arquivos do ator. Recuperados
recentemente em meio às pesquisas para as comemorações de seu centenário
— ele nasceu em 8 de julho de 1898 — os manuscritos ganham hoje o
status de um documento fundamental para a história do teatro e da
própria cultura brasileira. Dividido em duas partes, o livro costura, no
ritmo das idas e vindas da memória, episódios de sua vida pessoal e de
sua carreira. E, acaba oferecendo ao leitor um panorama minucioso de um
Brasil teatral perdido no tempo. Formado pela Escola Dramática do Rio de
Janeiro em 1919, o jovem ator vive peripécias dignas de ficção para
ingressar no circuito das companhias teatrais. Era o tempo de estrelas
como Itália Fausta e Leopoldo Fróes, ídolos daquele jovem baixinho e
atrevido que logo ganharia destaque por seus papéis cômicos e, em menos
de dez anos, se firmaria como um dos atores mais cultuados de seu tempo.
Não por um acaso, o ator decidiu firmar 1936 como um divisor de águas
em sua trajetória. Um ano antes, ele faria uma vitoriosa excursão a
Portugal que confirmava sua condição de estrela absoluta. Antes disso,
enfrentou críticos furiosos, falências, fome, preconceito e inveja de
seus colegas para se firmar como uma referência para o grande público.
Dos palcos, ele assiste a revoluções sociais e estéticas (como o
escândalo causado por Flávio de Carvalho com seu teatro experimental),
mantendo-se firme no propósito de criar o que entendia como uma estética
genuinamente brasileira. Procópio Ferreira apresenta Procópio tem como
um de seus principais atrativos a descrição, dos bastidores, de
episódios que redefiniriam os rumos das artes cênicas. É o caso, por
exemplo, do nascimento de Deus lhe pague , peça de Joracy Camargo.
Depois de ler no jornal A Noite uma reportagem sobre mendigos, Joracy
mostrou o recorte ao ator: “Que bela cabeça de velho. É um mendigo. Vou
fazer uma peça com o título: ‘Uma esmola pelo amor de Deus.’” Procópio
achou o título longo e sugeriu: “Deus lhe pague.” E assim, o dramaturgo
teve o impulso fundamental para se trancar em seu apartamento e redigir,
a lápis, um dos clássicos do teatro brasileiro. Ajudando a desenhar o
panorama da cultura brasileira nas décadas de 30 e 40, Procópio traça
ainda pequenos perfis de nomes como o do próprio Joracy, Martins Fontes,
Guilherme Figueiredo, Viriato Correia, Oduvaldo Vianna, Irineu Marinho,
Cândido Portinari Louis Jouvet, e Vicente Celestino, entre outros. O
ator também inclui uma relação das principais peças que representou e,
sob o título “Pipocas”, uma série de frases e pensamentos que traduzem o
homem que assim definia seu trabalho: “Originalidade é personalidade.”